Desde
que passou a oferecer ensino em período integral, em 2006, a Escola
Municipal Professora Silene de Andrade, em Goiânia, passou também a
oferecer aulas de dança. Embora a novidade tenha encontrado resistência,
no início, entre o público masculino, acabou por conquistar a maioria
dos estudantes. O projeto é vinculado ao programa Mais Educação, do
Ministério da Educação, de ensino em tempo integral.
“As alunas logo se adaptaram às aulas, já com o grupo masculino o
processo foi um pouco mais lento”, diz o professor e coreógrafo Eurim
Pablo, que participa do projeto desde o início. Ele explica que depois
da adesão de alguns alunos, outros foram conquistados. Logo, um grande
número de estudantes começou a dançar, o que provocou uma imediata
transformação no grupo. “Alunos que não estavam bem nas demais
disciplinas e eram considerados problemáticos logo viram a dança como
uma forma de comprovar que eram bons em alguma coisa”, avalia. “Com a
autoestima elevada, o senso de responsabilidade trabalhado, um professor
que lhes dava voz, pois o corpo fala, eles se tornaram referência na
escola”, destaca o professor, que também é aluno de mestrado em
performances culturais na Escola de Música e Artes Cênicas da
Universidade Federal de Goiás.
Para a diretora da instituição, Marlúcia Rodrigues Coutinho, as aulas
de dança ajudam a resgatar a autoestima dos jovens, principalmente
daqueles à margem da sociedade, em estado de risco. “Em consequência,
eles passam a se cuidar, cuidar do outro, socializar emoções e atitudes,
discipliná-las e viver tranquilos, embora com suas realidades”,
analisa.
De acordo com Marlúcia, os estudantes sentem-se verdadeiros
dançarinos. Muitos têm feito matrículas em cursos de dança oferecidos
por instituições estaduais de artes, em busca da especialização na
modalidade. “Alguns até já trabalham na área”, revela a diretora, que
está há 26 anos no magistério e há oito na direção. Com licenciatura em
educação artística e bacharelado em artes visuais, Marlúcia é professora
de artes em todos os níveis.
Embora as aulas de dança sejam oferecidas aos 150 alunos que
participam da jornada integral, eles não são obrigados a participar da
parte prática da aula. Eles só dançam, efetivamente, quando sentem
vontade, mas ninguém fica sem fazer nenhuma atividade. Quem não quer
dançar pode participar de outras atividades propostas.
Ensaios — Os ensaios das coreografias com os alunos
que participam de apresentações são realizados uma vez por semana, em
aula específica. “Nesses ensaios, o grupo é observado para definir quem
vai representar a escola em determinado evento”, explica Eurim Pablo.
“De modo geral, todos entendem que não se trata de julgamento, pois
várias são as questões levadas em conta no momento”, esclarece o
professor. Isso engloba pontos como o tipo de evento, participação do
aluno nas demais atividades propostas pela escola, dedicação às aulas e
responsabilidade ao sair da escola.
Os grupos que ocasionalmente ficam fora de uma de uma apresentação
sabem que terão uma próxima oportunidade. Há sempre o cuidado em
explicar bem aos estudantes os porquês da não participação naquele
determinado momento. Entretanto, quando a apresentação ocorre na própria
escola, que dispõe de grande espaço, existe apenas uma regra: “Querer
dançar”. Assim, não há um grupo de dança permanente. Os componentes
variam de acordo com o local e o espaço onde ocorrerá a apresentação —
na própria escola ou em mostras pedagógicas ou culturais. Também ocorrem
convites de outras escolas ou de entidades particulares.
Religião — Há casos de pais que não permitem a
participação dos filhos por entenderem que é algo não aceito pela
religião que professam. “Esses pais são convidados a assistir a uma aula
para perceber, na prática, que a ideia que fazem da dança é
equivocada”, salienta Eurim Pablo.
Apesar de a estratégia obter sucesso em muitos casos, há pais que não
autorizam os filhos a dançar. Esses alunos participam apenas da parte
teórica da aula.
Fátima Schenini
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